Pesquisadores da Ufal estudam espécie exótica de sururu na laguna Mundaú

O chamado “sururu branco” já é predominante e ameaça espécie nativa

Baixa oxigenação, águas poluídas com carga excessiva de sedimento e metais pesados, e alto índice de salinidade e temperatura. As descrições são compatíveis com o ambiente da laguna Mundáu, mas também são as condições ideais para o desenvolvimento do Mytilopsis sallei, popularmente conhecido como “sururu branco”, que tem preocupado órgãos ambientais, desafiando pesquisadores e colocando em risco o sururu preto (Mytilopsis churruana), além de, consequentemente, comprometer a renda de cerca de 3.000 pessoas que dependem da pesca e tratamento do molusco para sobreviver.

Há 11 meses, o sururu nativo, patrimônio imaterial do Estado de Alagoas, não era mais encontrado na laguna. Recentemente, pesquisadores comemoram a volta do molusco em um ponto específico da orla lagunar, embora em menor volume. Mas para o professor e pesquisador emerson Soares, a situação ainda é crítica. “Ali é o habitat natural do sururu nativo, então em algum momento ele retornaria, mas vimos que ele não voltou na quantidade que deveria e só se desenvolveu em alguns pontos”, poderou Soares.

Além disso, os sururus nativos encontrados estão pequenos, muito novos, então seriam necessárias também medidas de conscientização, como explica a professora Jucilene Cavali, bolsista de pós-doutorado no Laboratório de Aquicultura e Ecologia Aquática (Laqua) da Ufal e professora da Universidade Federal de Rondônia (Unir): “O ideal seria que esses moluscos não fossem capturados nessa idade, porque a espécie já tem sofrido com a competição e pressão do sururu branco, então a pesca se soma a esse fatores, por não deixá-lo chegar a um tamanho adequado”, explicou.

Segundo os pesquisadores, para garantir a recuperação da espécie, faz-se necessário uma política de manejo do sururu nativo, um planejamento estratégico de captura. “Os gestores (federal, estadual e municipal) precisam trabalhar juntos, para garantir saneamento urbano. Só assim os problemas do complexo lagunar serão, de fato, solucionados, porque os ecossistemas terão condições de regeneração”, destacou Soares, pontuando que a limpeza e a dragagem das lagoas são importantes, mas são medidas paliativas.

Preocupação também chegou à laguna Manguaba

A preocupação com a espécie exótica do sururu tambem tem preocupado pescadores e gestores de outros municípios do complexo esturino lagunar Mundaú- Manguaba. Para entender as pesquisas que já estão sendo realizadas e esclarer dúvidas, a Prefeitura do Pilar, por meio da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Agricultura, Pecuária, Pesca, Ciência e Tecnologia, promoveu uma audiência pública no último dia 27 de fevereiro.

Os professores Emerson Soares, Themis Silva, Alexandre Oliveira, Elton Lima Jucilene Caavali compareceram à audiência, além de representantes da Secretaria de Estado de Meio e Recursos Hídricos de Alagoas (Semarh/AL), da Defesa Civil, do Coletivo Enxame, da Comissão de Meio Ambiente da Ordem dos advogados do Brasil (OAB) e Associações de pescadores.

O laboratório de Instrumentação e Desenvolvimento em Química Analítica (Linqa) da Ufal está avaliando a composição físico-químia e contaminantes, além da composição nutricional da espécie exótica, em parceria com os laboratórios de Bromatologia também da Ufal e o Laboratório de Ciência da Carne (LCC), da Universidade Federal de Rondônia (Unir). “Já fizemos a primeira coleta e estamos em processo de análise desse bivalve, a fim de avaliar as possibilidades de aproveitamento, tendo em vista uma espécie mas resistente”, explicou o professor Jusué Cariranha, coordenador do Linqa/Ufal.

As pesquisas estão sendo realizadas no âmbito do Projeto Laguna Viva, que tem como objetivo investigar, compreender e propor soluções aos problemas da Laguna Mundaú, envolvendo os laboratórios Laqua, e de Sistemas de Separação e otimização de Processor (Lassop) e o Linga.

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